Você e eu somos rotineiramente capturados por uma miríade de notícias enganosas — basta se perguntar sobre a veracidade do que chega até os seus olhos e ouvidos agora, neste instante. Não deixe mais o seu cérebro ser sequestrado!
Se sentado no sofá, em casa, com a minha família, cada um atento ao seu meio de comunicação, o quanto posso confiar nos estímulos que roubam as suas atenções?
O quanto informam o que é necessário saber, o quanto entretêm, trazem confiança, esperança?
Ou será que a verdade se tornou fluida, maleável, e se perdeu no espectro nebuloso das narrativas?
Um estudo publicado pela Proceedings of the National Academy of Sciences, realizado com pessoas em 17 países, indica que as pessoas costumam prestar mais atenção em notícias negativas — e, no Brasil, esses comportamentos são ainda mais evidentes.
Quem gera notícia sabe muito bem que as notícias negativas vendem mais porque causam um forte impacto inicial sobre o nosso emocional.
Assim, choque, surpresa e pessimismo, são os ingredientes que estão em jogo, sabe para quê? Para ganhar a sua atenção.
Bem, pesquisas têm comprovado que ficamos mais atentos e nervosos logo quando recebemos uma notícia negativa.
Mas há outro efeito: as pessoas passam a ter também expectativas negativas e, assim, emoções são exacerbadas.
Veja esta enquete sobre liderança, feita pelo Portal Vagas, envolvendo 11 mil pessoas. Mais da metade dos respondentes avaliaram como “tóxica” a influência dos seus líderes sobre as equipes no trabalho.
Mas olha que contraste! A maioria destes líderes não foi classificado com o perfil autoritário, crítico ou agressivo.
Ou seja, seria como se você se sentisse prejudicado (a) na sua equipe, pela influência do líder, mas não o julgasse como uma pessoa “do mal”.
Claro que você deve se perguntar: por que isso acontece? Pois é, até mesmo o líder pode ser abalado emocionalmente. Ao nível individual, isso pode ser motivado pelas circunstâncias em que se encontra, como situação econômica, posição política, e até mesmo as mídias sociais em que a pessoa diariamente consome notícias.
Longe de mim, afirmar que a razão de alguns líderes transpirarem negatividade para a sua equipe, seja pelo fato de estarem expostos a notícias negativas.
Nunca vi nenhuma pesquisa de causa e efeito a esse respeito. Mas, se todos estamos no radar destas influências cotidianamente, o líder, que está em evidência nas organizações, famílias, e até mesmo liderando países, mais do que todos, precisa estar atento, protegido e ileso, uma vez que é o farol e a inspiração de muitas pessoas.
No curso que fiz para você sobre Liderança com Inteligência Emocional, vimos que todos nós temos células cerebrais, denominadas “neurônios-espelho”, que têm uma dupla função:
- Captar as emoções das pessoas. E não tenha dúvidas, você é muito competente em analisar expressões, gestos e palavras das pessoas, pois os seres humanos sempre se salvaram, interpretando sinais e ajudando outros da sua espécie;
- Irradiamos emoções para nos sintonizarmos uns com os outros.
Bom, quando afirmei que o nosso cérebro está sendo sequestrado por notícias enganosas, eu gostaria que você conhecesse alguns pontos importantes.
Mas, porque é assim? Se vivemos em uma época em que nos relacionamos mais, temos mais facilidades, mais tecnologias e, repare, segundo Rutger Bregman no livro “Humanidade, uma história otimista do homem”, todos os dias, 137 mil pessoas no mundo deixam para trás a extrema pobreza. Veja, todos os dias.
Haveria muito o que contar de positivo no nosso dia a dia. Se você se interessar pelo livro fantástico “Oportunidades Exponenciais”, escrito por Peter Diamandis e Steven Kotler. O autor lembra que somos agora uma geração de privilegiados. É pura inspiração que choca com tudo aquilo que hoje tenta nos fazer acreditar que situações ruins que estão acontecendo são ainda piores e vão se prolongar por muito tempo.
Mas, por que será que não damos um “basta” nisso tudo?
Você e eu podemos até querer isso, mas há toda uma indústria de notícias que decide o que deve ser colocado em frente aos nossos olhos. Todos eles sabem que qualquer acontecimento negativo gruda mais profundamente em nossa memória por duas fortes razões constatadas pela ciência. São elas:
- O viés da negatividade. Ou seja, de acordo com o livro “O Cérebro de Buda”, do neurocientista Rick Hanson, os nossos cérebros sempre priorizam a atenção ao negativo porque os nossos antepassados só conseguiram sobreviver por estarem o tempo todo atentos aos perigos das ameaças de predadores. Em outras palavras, o cérebro que sobreviveu foi o predominantemente negativo;
- Estamos expostos ao viés da disponibilidade, que é o fato de estarmos sempre em contato com os meios de comunicação. Não há um lugar onde os meios de comunicação não te alcancem.
Os comunicadores podem até fazer cara de inocentes, mas sabem muito bem dessas nossas duas limitações! E ainda fazem mais para terem a usucapião — ou seja, a propriedade — das nossas cabeças.
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Veja só o que diz Kate Starbird, pesquisadora da Universidade de Washington:
- “Os meios de comunicação lançam muitas ideias com o interesse de te atingir”;
- “As notícias são como espaguetes com molho de tomates atirados na parede”.
E o que isto quer dizer? Ela faz a seguinte metáfora: se você atirar espaguetes contra a parede, muitos pedaços batem e caem no chão. Outros permanecem colados, depois secam, mas, com o tempo, também caem.
No entanto, se você acrescentar molho de tomate ao espaguete, tudo muda. Quando atirado na parede, a mancha de molho de tomate será muito mais difícil de ser removida. Starbird quer dizer que, em um mundo pós-verdade, como o nosso, contar um fato real, objetivo apenas, não interessará tanto ao público quanto se acrescentar a esses fatos um forte apelo à emoção.
Pois é, o molho é o que tem de sensacional na comunicação, o que tem de sangue, ou pretensioso, na notícia e assim é a emoção mais chocante possível.
Quem gera a notícia, sabe que as emoções influenciam mais a opinião pública do que os fatos.
E claro que, assim, uma ideia subjacente permanecerá na nossa memória, assim como o molho de tomate será muito mais difícil de removê-la da memória. Imagine isso multiplicado na mente de milhares de pessoas, que sem tempo de avaliarem a procedência ou veracidade dos fatos e boatos, compartilham tudo o que recebem, por exemplo.
Bem, tenho que me voltar agora para o líder que é você. Ainda não temos “antídotos” para estarmos a salvo do “enxame” de notícias ruins a todo momento.
Mas também não há dúvidas de que não podemos nos afastar do mundo, e que você, como líder, precisa manter-se sempre informado (a). Sei que não é simples optar por escolher fontes mais confiáveis.
Porém, o que mais o líder deve desenvolver e explorar é o seu pensamento crítico, além de se colocar em uma posição mais equidistante, com uma visão mais holística e estratégica, para manter o clima emocional positivo da sua equipe.
É questionar, analisar e estar constantemente reavaliando a si mesmo (a), porque também temos que vencer os nossos próprios vieses e os do mundo que nos rodeia. Forme o seu próprio juízo.
Para te ajudar, eu adaptei um checklist do livro “Verdade”, de Hector MacDonald. Avalie o impacto das notícias, perguntando-se:
- A informação que me chega é verdadeira? Tem uma carga de emoção exagerada? Se for verdade, o que posso fazer a esse respeito? No caso de dúvida, tente consultar agências de checagem de fatos;
- Avalie se a fonte é confiável. Foi, propositalmente, ocultado algo importante? A fonte fornece provas do que está afirmando?
- Essa notícia vai mudar a minha maneira, assim como a da minha equipe, de ver as coisas?
- Poderá afetar o meu comportamento e o clima motivacional da minha equipe?
- Será que posso analisar essa notícia ou esses números de outra maneira? A notícia tem algum juízo moral, crença ou interesse financeiro do autor?
Vá em frente!